sexta-feira, 20 de março de 2009

Viver na altura das fadas...

Quem não recorda a sua infância com alguma nostalgia (positiva, claro..) e tamanha alegria, definitivamente não pode ser considerada uma pessoa feliz. Pelo menos, é a ideia que tenho. Até porque a vida faz-se de trás para a frente, logo, as nossas raizes e as nossas experiências quando tinhamos 4 ou 5 anos são tão importantes como aquelas que temos aos 20, 22, 24 anos (quando temos a mania que ja sabemos tudo o que há para saber e que somos muito adultos.. pois..). E as nossas recordações dessa vida que parece tão distante, surgem quando menos contamos, é um facto. Todos deveriamos ter tido a oportunidade de viver na altura das fadas, na altura da colecção de livros da Anita, na altura das colecções das Barbies, das colecções das "Barriguitas", das colecções dos Pequenos Póneis, dos Playmobil e das Polly Pockets. Era tudo tão mágico e encantado, e tenho a certeza que se ainda perdessemos algum tempo a brincar com as nossas Barbies, passariamos melhor alguns minutos em vez de os desperdiçar com banalidades. Nascer em '84 teve essa vantagem. Nascemos na era das Barbies e dos Nenucos, na era em que os bonecos começaram a fazer xixi e a dizer "mamã", se carregassemos com força na mãozinha esquerda. E quem não delirava com uma lancheira da Barbie e com as super sapatilhas que davam luz ou, por exemplo, com o castelo cor-de-rosa que abria e fechava? Quem não delirava com as fitinhas de pôr no cabelo da Barbie e com as meias (sempre cor-se-rosas..) da Barbie? T-shirts, calças de ganga, chapeuzinhos, relógios, enfim.. Impossivel não termos passado pela febre de "ter de ter" tudo o que tinha o fantástico e cintilante "B", tão bem trabalhado e chamativo. Admito, a minha mãe sofreu horrores comigo às custas da Barbie e tudo o que lhe estava inerente. Para viver no mundo das fadas também é preciso ter tido a sorte suficiente para ter uma professora primária que adorava tudo o que fosse literatura, e por isso mesmo, termos tido contacto desde muito novinhos com quase todos os livros da Sophia de Mello Breyner Andersen. Entrar nas suas histórias era realmente entrar nesse tal mundo fantasioso, e acreditem que se "hoje" pegarmos num desses livros, damos ainda mais valor. Entendemos melhor, lemos com olhos de "ler", fazemos e tiramos as nossas próprias conlusões, percebemos as metáforas, entendemos o sentido das palavras de outra forma. Quem nunca leu "A Fada Oriana", "O Rapaz de Bronze", "A Floresta" ou "A Menina do Mar" pela segunda vez, mas agora com mais 16 ou 17 anos em cima, não sabe o momento de pura vivência na altura das fadas que está a perder. Ah, e mencionado como surgiram estas recordações do tal tempo que parece perdido no "tempo": decidi ler (e reler) "O Cavaleiro da Dinamarca".


P. Sawyer*

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